
Calla era uma gatinha tutelada da ONG Gateiros Tucujús. Foi resgatada sob situações de maus-tratos, mutilada após uma sexta-feira 13. Aqui você encontra o Diário de bordo da viagem que a levou até o seu maior sonho: novas patas e qualidade de vida! Claro, com muitas risadas e sustos, afinal, o que esperar de um gato sapeca?
Embarque na história de Calla
Diário de bordo (Dia 1)
Esperei ansiosa para o dia da tal viagem que a tia Allana disse que eu faria, aproveitei cada segundo ao lado dela e de todos os meus parceirinhos de lar, já que seria uma semana de saudade de casa.
Já no aeroporto, comecei a ficar inquieta com os barulhos esquisitos. Enxergar através dos buraquinhos da caixa era um pouco difícil, mas pelo menos ajudava a não aumentar o meu estresse. Enquanto tia Laura já tinha me pesado e assinado os papéis que me deixariam voar, a tia Suelen teve problema no balcão... o moço disse que a cadeirinha dela não era ao meu lado, ficamos nervosas! Mas a tia bateu o pé e explicou que já tinha feito aquele negócio de bilhete antes, né, até que ele aceitou. Ufa!
"Moça, você vai ter que tirar o bicho da caixa". Ihhhh, não tinha entendido nada mas quando a tia abriu minha bolsinha eu sabia que não ia gostar... "Vem, Calla, é rapidinho". Tia Laura me segurou bem forte e correu comigo pelo portal de ferro, fiquei nervosa e já queria sair dali, mas logo ela me colocou de volta e eu me acalmei.
Enquanto nosso avião não chegava, tomei algumas gotinhas homeopáticas que a madrinha Cláudia enviou para mim. Curiosa, vez ou outra colocava minha cabeça fora da bolsa quando vinham fazer um carinho, mas logo cortaram meu barato assim que uma moça sentou na cadeira bem ao meu lado, justamente onde tinha umas letras bem grandes dizendo que não podia sentar pertinho, por causa do corona.
Na fila do embarque, tia Laura disse que eu era prioridade por ser "pet", mas uma moça não entendeu e quis fazer confusão atrás da gente. "Quer ver a gata? Você tá se batendo com a bichinha que vai colocar prótese!", achei que eu ia ter que separar uma briga, mas deu tudo certo. Esperamos um tempão em uma fila grande para poder entrar, já estava impaciente e comecei a andar em círculos na bolsa. "Calma, Calla! Daqui a pouco a gente chega. Tu estás pesada demais!". Se ela achou difícil, imagina eu que tenho que carregar os meus 5kg de puro sachê todo dia... não é fácil ser eu não, tios.
Dentro da cabine eu dei um mortal na bolsa porque só dava para me colocar no espacinho virando tudo de lado, a tia foi colocando devagarzinho até encaixar. "Pode empurrar, moça, ela tem que ficar bem lá atrás". Mas tia Laura me colocou mais pertinho para poder ficar de olho em mim (eu sei que na verdade era para eu ficar de olho nela porque ela tem medo de avião). Respira, tia!
Fui bem quietinha e quando percebi já estávamos em Belém! Ainda bem, sabe? Não aguentava mais aquele barulho de FOOOOOOOOONNN. "E essa nossa passageira exemplar? Muito comportada!". A moça bonita tinha razão mesmo, fui bem demais.

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Tia Laura, minha veterinária tia Suelen e eu (na bolsinha, hehe)
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Depois de pegar nossas malas, encontramos a família da tia Suelen nos esperando no aeroporto. Dona Rita era pura simpatia, agora sei de onde tia Su puxou o sorriso bonito.
Chegando no lugar onde seria o nosso lar por esses dias fomos muito bem recebidas por todos. A mãe e a avó da tia Su estavam rezando o terço. Atrás delas uma mesa cheia de santos, fotos de família e uma bem grande da tia Su, nos davam boas-vindas. "Olha, tá tudo limpinho já, viu? Podem se acomodar". Cheguei já querendo explorar tudo, fora da bolsa obviamente... deixei minha secretária arrumando minhas coisinhas e fui passear pela casa. Ah, aqui eles também têm um gato, um grandão chamado 'Cabeçudo'.
Ainda me acostumando ao novo lugar, provei só um pouco do patê que serviram como minha refeição e decidi me esconder embaixo da cama até os barulhos passarem. No fim da noite, tia Laura apagou as luzes e já era hora de dormir... para ela, porque para a minha barriga era o sinal de 'janta'. 05h. Só deixei a tia dormir depois de ficar um bom tempo me fazendo carinho. MIAAAAAAAAAAAU!!! Ei, tia, tô presa aqui embaixo do fogão. Minha barrigona era do tamanho certo para entrar, mas custava muito para sair. Ouvi um barulho e vi o fogão subindo depressa, era hora de correr! Me arrastei bem rápido para fora dali e pulei na minha caminha. Pode apagar as luzes aí, tia, agora eu já vou dormir. Minha viagem, minhas regras!
Diário de bordo (Dia 2)
A madrugada foi de muito carinho e um pouco de agitação por aqui. Dormir? Nem pensar! Eu descanso de dia, porque de noite é a hora que eu gosto de ficar deitada de conchinha com a tia Laura. "Ai, Calla, minha barriga!". Foi mal, tia! É que para chegar do outro lado da cama é mais rápido passando por cima da senhora…
Ah! Falando em cama, já contei para vocês que agora eu sou filha única por uma semana, né? Meus parceirinhos de Macapá que não me leiam, mas eu tô adorando ter exclusividade por aqui, a tia fica o dia inteiro me mimando, fazendo cafuné e coçando minha barriga. Como eu gosto de deitar bem agarradinha, ela achou melhor tirar a cama e colocar o colchão no chão, para que eu pudesse subir e descer sem me machucar. Agora que eu não quero saber de outra coisa mesmo, era só o que eu precisava para bagunçar tudo.
Meu lugarzinho favorito é embaixo do fogão, enganei a tia por dois dias, mas ela acabou descobrindo que eu consigo sair sozinha, não consegui sustentar a farsa do meu buchinho por muito tempo. Enquanto ela fazia o almoço, fiquei só observando 'do mezanino' e gritando: MINHAAAAAAU, TOMPERO, TIA! TÁ FALTANDO!. O que seria dela sem mim?

À tarde eu assisti TV e decidi comer um pouco, esses dias foram meio esquisitos, sabe como é... lugar novo, hábitos novos. De tanto falarem do meu peso, resolvi diminuir um pouco minhas refeições, reeducação alimentar que fala, né? A viagem mexeu com o meu apetite, mas não se preocupem, o meu peso continua o mesmo, ainda sou a mesma Calla gostosa de sempre.
Aproveitei para descansar bastante porque a noite eu ia dar trabalho... tia Laura tava um pouco preocupada porque eu ainda não tinha feito xixi e cocô (mal ela sabia...), mas como eu não estava comendo tanto, isso era normal.
Na madrugada…
"Que cheiro é esse? Calla, tu fizeste xixi na tua caminha??"
Ah, não era banheiro não? Desculpa aí, tia, é que entre a caixa de areia e o tapete higiênico, minha caminha era mais confortável, depois a senhora lava direitinho, tá bom? Não esquece a fronha também. Opa, mas não agora, né mulher? A senhora tem que deitar comigo, agora eu tô cansada!
Diário de bordo (Dia 3)
Mais uma madrugada de bagunça por aqui, dessa vez eu quis dormir na cabeça da tia e por lá fiquei, taquei minha buzanfa bem na cara dela. Já expliquei que o horário de dormir é de manhã, a noite é feita para brincar. Coé!
"Calla, vou tomar café com a tia Suelen e volto, viu?". Vai, mulher, vai na paz que eu vou descansar no meu fogão. Será que eu consigo cozinhar um patê gostoso igual ao da tia Joyce? Prefiro não arriscar, fica para a próxima.
De tarde eu deitei um pouco na cama que agora também me pertencia. Tia Rita, mãe da minha vet favorita veio me visitar, mas ouvi muitas vozes e me escondi atrás da cama. "Olha que linda!! Ela é pretinha! Que maldade que fizeram com a bichinha, coitada". Gosto dela, apesar dos cabelos grisalhos, Rita aparenta ser bem mais nova do que sua idade diz, ela é muito cuidadosa com tudo e o xodó dela atende por 'Cabeçudo'. "Suelen, tira aqui uma foto minha com o 'Cabeça' que eu vou postar no meu status".

Tia Laura teve dor e tomou um remedinho para melhorar, mas espoleta como sou fiz ela ficar me vigiando... depois compensei com muitas lambidas no joelho, né tia? Ela tava bem cheia do almoço ainda e não quis jantar, decidi que também ia me juntar a ela no 'jejum'. "Dona Calla a senhora cuida de comer, porque amanhã é dia da tua cirurgia e tu só podes comer até 00h, depois disso só amanhã na hora do almoço, viu??" QUE?????? TÁ DOIDONA, TIA??? QUE HISTÓRIA É ESSA? Sem comer eu não fico não, pode descer essa ração aí! Comi tudo sem dó, meu buchinho já tinha diminuído 2cm só de pensar em ficar sem comer, longe de mim essas coisas de dieta!
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Tia suspendeu minha comida às 23h, mas eu já tava bem satisfeita. Acho que ela tava mais nervosa do que eu, tentei tranquilizar ela um tiquinho, até toquei aquela sinfonia famosa do Beethoven: 'Sonata ao Ronronado'. Ela gostou que só, deu até umas risadas, porque no fim eu tava tão calminha que deixei escapar um baita punzão.
Antes de apagar as luzes a tia fez uma chamada de vídeo com as pessoas da casa dela, uma gata pequenina apareceu e se zangou quando a tia me mostrou na câmera, eu posso com isso? Roubei ela para ser minha secretária particular por uma semana, depois eu te devolvo, Amora! Juro, juradinho (ou não), não posso prometer nada...

Diário de bordo (Dia 4 - Data da cirurgia)
Acho que absorvi um pouco do nervosismo da tia porque não consegui dormir também. Atenta olhando a luz que entrava pela fresta da porta pensava que daqui a algumas horas minha vidinha mudaria ou será que já tinha mudado?
03h. "Calla, vem deitar!". Tô bem aqui, tia! Não se preocupa. Mas ela se preocupou e dividimos nosso nervosismo e insônia até o amanhecer. 06h o alarme tocou, bem na hora que a tia conseguiu pegar no sono. Tia, acho que é agora... Esperei deitada na porta do banheiro até que a 'minha secretária' tomasse banho e se vestisse para o que seria um momento decisivo na minha história.
Meu nome simboliza força e mistério, duas coisas que fazem parte da minha existência desde o início. 'Calla' é uma flor belíssima muito semelhante ao copo de leite. Rara e exótica, a Calla negra é símbolo de elegância e longevidade. E tal qual a cor dos meus pelos, possui um brilho próprio sutil aveludado, mas imponente. Toda vez que você se deparar com esse nome, vai lembrar de mim.
A tia costuma dizer que eu sou dócil, mas fico agressiva quando estou com medo, na verdade essa reação é puramente instintiva de nós animais. Sobrevivência. Nem sempre as maiores carcaças são as que aguentam uma batalha. Mesmo frágil e ligeiramente estabanada, gosto de me imaginar bem maior, gosto de me imaginar como uma heroína... e talvez eu até seja!
No caminho até a clínica me mantive serena, nesse momento a próxima luta seria apenas mais uma pedrinha no meu longo caminho. "Chegamos, Calla!". Essa seria a última vez que eu passaria por uma portinha sem apitar no sensor de metal, né tia? Na volta não seria mais a mesma coisa e eu também não seria mais a mesma Calla.
Lá dentro conheci dois tios legais, os que iam colocar minha perna do Homem de ferro e outro que ia me colocar para dormir. O tio do sonífero - ‘anestesista’, para os humanos - chamava Bruno e usava uma roupa bonita do Batman, acho que ele era um super-herói como eu!! "E essa moça bonita? Calla, né? Vamos olhar esses exames?". Tudo certo.
Os dois explicaram para as tias exatamente tudo o que seria feito e também os riscos que eu corria, falou de um negócio chamado 'embolia gordurosa' que é muito comum em procedimentos que envolvem ossos e articulações. Mas não ia dar nada não, São Francisco de Assis ia me proteger. "Eu vou aplicar um tranquilizante para ela ficar mais calminha e facilitar na hora do pré-operatório". Poxa, tio, eu tava gostando tanto do senhor…
Comecei a ficar meio molinha, mas continuava atenta a tudo que acontecia ao meu redor. Tia Laura foi me deitando e arrumando minha cabeça para ficar mais confortável, meu corpinho tava tão pesado que eu não conseguia segurar. "Agora nós vamos levá-la para a preparação". Calma aí!! Deixa eu dar um cheiro na tia, ela tá nervosa! Olhei para ela e sei que ela entendeu o que eu quis dizer naquele momento. "Vai dar tudo certo, menina, a tia vai te esperar aqui fora!". Apaguei.
Lá da recepção enquanto tia Laura chorava, tia Suelen ia avisando o que estava acontecendo lá dentro. "Já foi colocada uma prótese, falta a outra". Aos poucos ela ia se acalmando e o momento das minhas perninhas finalmente estarem ali se aproximava. "Acabou".
"Ela já acordou da anestesia, vem ver!". Comecei a ouvir muitas vozes e não conseguia reconhecer nenhuma. "Meu amor, você tem perninhas de gancho agora!!", aquela voz eu conhecia, era a tia Laura!! Fiquei agoniada e queria sair daquela casinha de qualquer jeito. 'A gente já pode ir para casa?', pensei, mas ainda não, minhas patinhas traseiras ainda não funcionavam e eu não conseguia me equilibrar direito, eu teria que ficar por ali até o dia seguinte. "Calla, vamos em casa e voltamos mais tarde para te ver, tá bom?".
Depois a tia me explicou que muitas pessoas estavam perguntando por mim e como eu estava, fiquei feliz em saber que sou querida e agora até reconhecida! No fim da tarde as tias voltaram, me agitei muito ao ouvir a voz delas porque a saudade já tava grande, sabe? Mas todos na clínica me trataram muito bem, me senti em casa (e comi como se estivesse mesmo). Aos poucos as pessoas estavam indo embora porque o horário de fechar se aproximava. "É você que vai ficar com ela?". "Nãaao, a plantonista já tá... olha ela aí!". Uma moça de cabelo cacheado igual ao da tia entrou. "É ela a gatinha que operou?". Ela perguntou o que tinha acontecido comigo e as tias contaram, todos ficaram horrorizados, mas felizes que agora eu estava bem.
Fiquei olhando atenta pelo buraco da caixinha enquanto as tias iam embora de fininho para eu não me agitar. Tchau, tias! Vejo vocês amanhã.
Nota da tia Laura
Saindo da clínica fui à farmácia providenciar os remédios prescritos pelo veterinário, no balcão a moça viu a receita e fez muitas perguntas. "É uma menina?". "Sim!", respondi. "É gatinha?". Disse que sim novamente e completei: "Veio para cá fazer uma cirurgia, colocar próteses nas patas". Assustada, ela questionou o que havia acontecido com a Calla e expliquei da forma mais resumida que pude. "Nossa, mas é um satanás uma pessoa que faz isso com um bichinho, né? Eu tenho 5 gatinhos e eles são a minha vida, DEUS ME LIVRE DE ACONTECER ALGO ASSIM COM ELES!".
Ela me entregou os remédios, agradeci e segui para a fila do caixa. "MOÇA!!!! ESPERA AÍ!", dei meia volta e fui ver se tinha esquecido algo com ela. "Você tem convênio Unimed?". Respondi que não. "Espera um instantinho que eu vou tentar conseguir um desconto maior para você, um momento!". Enquanto eu esperava as pessoas me olhavam impacientes. "Aqui! Prontinho! De R$180,00 reais, ficou por R$72,00". Mesmo não sendo suficiente, agradeci várias vezes. "Espero que a gatinha fique bem, viu?".
Vai ficar sim!
Diário de bordo (Dia 5)
Aqui todo mundo tem muito cuidado comigo, sou tão perigosa que telaram a fachada da minha suíte executiva. Tenho um lustre e até tapete que realça a cor dos meus olhos, tô começando a ficar mal acostumada! Será que eles aceitam assinar minha carteira?
Tia Suelen veio me visitar de tarde, mas eu não quis muito papo não e ela achando que eu ia ficar agitada... mas quando, tia! Aqui eu como patê toda hora, finalmente achei alguém que entende a importância de manter a minha pancinha sexy!
Na hora de fazer meu cocô, usei a caixinha de areia. Até eu me surpreendi!! Foi a primeira vez que consegui me apoiar, andar e entrar na caixinha, fiquei feliz, mas não foi só eu... Ei, que isso? Filmando? Cadê minha privacidade?? LUISA MEEELLL, CORRE AQUI! "É para mostrar para a tua tia, Calla!".
No fim da noite tia Laura veio me ver. "Oi, meu amor!! Fiquei sabendo que você passou o dia comendo! Tava com saudades de você!". Tava com saudades mas não me levou, né? Sei... "Olha só, filmei na hora em que ela usou a caixinha de areia". Tia Laura se emocionou e ficou me elogiando. "GENTE, VOCÊS NEM SABEM!!! A CALLA USOU A CAIXINHA DE AREIA!!!!". A tia contou para todo mundo da minha nova vitória. Era sofrido demais tentar levantar e não conseguir, minhas patinhas doíam bastante, tia Allana sabe... mas hoje isso tudo ficou para trás!
A clínica ia fechar e minha companhia da noite tinha acabado de entrar pela porta. Hora da despedida. "Callinha, a tia tá indo mas volta amanhã, tá bem?". Tá bom, vou te esperar, tia! Amanhã vê se não esquece o meu ratinho de brinquedo, por favor!
Diário de bordo (Último dia)

Malas prontas. Ontem a tia disse para eu aproveitar meus últimos momentos de mordomia que logo cedo ela viria me buscar. Nunca vou esquecer do que vivi aqui e nem deveria, desde que eu entrei nessa clínica o destino se encarregou de reescrever minha história. Foram dias cansativos, mas decisivos na minha curta jornada por aqui.
"Oi, filha! Pronta para ir embora?". Com certeza, tia! Já estava só esperando a senhora chegar. Me despedi de todos que cuidaram tão bem de mim, especialmente do tio Carlos que me deu pernas novas. Ele é um homem de poucas palavras, mas é um verdadeiro gênio da ortopedia. "Tchau, Calla! Qualquer dia desses eu apareço em Macapá".
No caminho para o aeroporto me mantive tranquila e minha diversão foi assistir a tia Suelen apanhando para conectar o bluetooth no som do carro. "Aperta aí, Gilberto que eu não sei mexer nisso não". Enquanto escutávamos toda a discografia das mulheres do sertanejo, fui gravando na memória os lugares onde passamos. Até qualquer dia, Belém!
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No aeroporto, me despedi brevemente da tia Suelen. Obrigada por todo o carinho que vocês tiveram comigo e com a tia Laura, vejo a senhora em Macapá! "Vê se te comporta, moleca!". Que história é essa, tia? Mais comportada que eu, impossível!!
Xiiiiii... parece que a tranquilidade durou pouco. Tia Laura planejou esse momento nos mínimos detalhes, pediu um documento completo do veterinário explicando minhas novas condições, para que não houvesse problema na hora de passar pelo raio-x... não deu certo. "Moça, eu vou ter que revistar você, a gata e a bolsa dela, para passar você tem que apresentar um documento da Polícia Federal autorizando isso". Tia Laura ficou tiririca da vida e começou a se alterar. "MOÇA, LEIA O DOCUMENTO, POR FAVOR!!!! EU NÃO TENHO COMO TIRAR ELA DA CAIXA, ELA PODE SE ESTRESSAR E CAIR, QUEM VAI SE RESPONSABILIZAR SE ELA SE MACHUCAR???".
A mulher ficou com raiva e não deu a mínima, não quis nem olhar o documento que até foto das minhas perninhas tinha. "Eu posso abrir a caixa, tirar ela não!!!!". Depois de muita confusão, finalmente nos deixaram passar, eu já tinha até preparado meus parafusos para dar um chute na mulher, mas a tia Laura resolveu. "Tá tudo bem agora, daqui a pouco a gente chega, neném. Vamos tomar as gotinhas para acalmar?". Olha, tia, acho que a senhora vai precisar tomar umas também…
Esperamos, esperamos, esperamos... por conta da pandemia as companhias aéreas pedem que os passageiros cheguem 3h antes no aeroporto, deu até tempo de eu tirar um cochilo. "Licença, moça! Você é prioridade?". Ai, meu gatinho do céu, de novo essa confusão... "Sim, somos sim!". "Ah, tudo bem, estou aqui atrás de você, viu?". Ufa, essa passou raspando!
"Quase lá, Calla!". Ficamos bem na frente dessa vez, mas ao lado de um senhor rabugento, esse até ganhava de mim! "Vou pedir que o senhor tenha um pouquinho de paciência porque eu preciso acomodar ela devagar, ela fez uma cirurgia". O velho rabugento fez uma cara... mas tia Laura nem ligou, até demorou mais só de birra.
"Atenção, senhores passageiros, preparar para o pouso". Eita, já? Chegou rápido hoje, né? Ou será que eu já estou me acostumando nessa vida de viajante? "Laura, tô aqui na área do desembarque esperando vocês". Era a tia Allana! A saudade tava tão grande que ela fez questão de vir nos buscar, eu costumo causar esse efeito nos humanos mesmo…
Minha história chegou a muitos lugares, tocou muitas pessoas e emocionou quem se sensibilizou com a minha trajetória. Sabe, tios... eu não tinha nome, endereço ou mesmo alimento e carinho no fim do dia. Não tive família, um quintal ou qualquer coisa que me fizesse pensar que minha vida seria tranquila até o fim dos meus dias. Mas de repente tudo mudou, desde o dia em que eu fui encontrada eu lutei por mim, pelos meus filhotes, mas principalmente lutei para viver e não ser mais um animal na contagem de mortos.
Eu merecia viver! Meus filhos também, mas infelizmente não tiveram a mesma sorte que eu. Hoje eu sou a Calla Maria, tenho uma família temporária que cuida de mim como se fosse eterna. E de certo modo é sim, porque independente de qualquer coisa, eu sempre serei uma gatinha tucujú!
Acharam que tinha acabado? Na verdade esse foi só o começo da história da buchudinha. Depois disso ainda tem o capítulo mais especial, a adoção! Nossa menina voou para terras mineiras e foi ser feliz vivendo na estância serrana! Tá bom para vocês?
Calla na serra


Diário na serra (Dia 1)
Oi, gente! Vocês devem estar se perguntando: "Ué, o que a Calla está fazendo aqui de novo?". Então, tios... vim contar o último capítulo da minha história: agora vou morar em outra cidade, vou virar mineirinha! Eu sei, eu sei, é muita coisa para a cabecinha de vocês, mas calma que eu vou explicar direitinho.
Vocês lembram que há alguns meses eu fiz uma cirurgia muito importante para colocar minhas próteses, né? Pois é, quando voltei a dona Cláudia, minha madrinha do coração disse que queria me adotar, olha só! As tias ficaram muito felizes com essa notícia e eu também. Ela disse que mandaria as passagens para a minha secretária, tia Laura, ir me deixar lá em Berizonte, (desculpa, é que eu já tô pegando o sotaque), afinal ela tinha que escrever meu diário, né. E aqui estou eu em mais uma aventura.
Passei todos esses dias dormindo na minha bolsa de viagem porque não me aguentei de ansiedade. Mas confesso que hoje bateu um pouco de nervosismo e saudades antecipadas dos meus companheiros e da minha família aqui de Macapá. Me escondi embaixo da mesa da cozinha e fiquei quietinha esperando me encontrarem. "Ahhh, te achei! Vamos, a gente tem que ir para o aeroporto, menina!". Tá, mulher, eu sei, deixa só eu dar um cheirinho na tia Allana antes. Amo você, tia. Obrigada por cuidar de mim, vou sentir falta de ser rabugenta com a senhora, quando a sua cria nascer manda foto para mim dela, tá bom?

No aeroporto, passando no raio-X, um moço de cabelo escuro começou a perguntar de mim. "É UMA GATINHA!!!! VOCÊ SABE QUE EU TAMBÉM TENHO UMA? CHAMA LILICA". Tia Laura deu um sorrisinho por baixo da máscara e puxou conversa. "Sabe, ela tá lá em Belém, castrou essa semana, é o amor da minha vida! Olha, essa é ela na janela", disse o homem grande mostrando a gata no celular. Esses humanos adoram se exibir com a gente…
Na fila de prioridade uma senhora nos parou. "Oi, é um gato ou cachorro?". "É uma gatinha, Calla o nome dela". "Quando a gente ama leva para todos os lugares, né?". "Próximo!", e finalmente chegou nossa vez.
"Pronto, Calla, dá uma respiradinha aqui". Ai, mulher, finalmente! Não aguentava mais ficar presa nessa bolsa. Fomos as primeiras a chegar, ainda bem, porque apesar de ser prioridade muita gente implica com a tia na hora de embarcar. "Boa viagem, senhora!". Na fila para o embarque uma vovó franzina de cabelos platinados começou a puxar assunto. "É bom que gato é quietinho, né? Cachorro que chora mais".

Já no avião, velho conhecido meu, a tia tratou logo de me acomodar e eu fiquei direitinho esperando a decolagem, mas uma chuva começou a se formar e caiu bem forte, o que atrasou o nosso voo. Mais lá na frente eu explico sobre isso…
Vez ou outra dona Laura batia na minha bolsa para conferir se eu estava bem. 'Ei, eu tô dormindo aqui, por gentileza a bonita poderia fazer o favor de não incomodar? Obrigada!'. No horizonte era possível ver o sol se pondo, e foi uma das coisas mais bonitas que eu pude presenciar. Aos poucos foi anoitecendo e depois de algumas horas já chegaríamos em nossa primeira conexão.
Muitas luzes e coisas reluzentes, Brasília é um lugar bonito. Opa, já chegamos? Isso, chegamos sim. Então, gente, lembra que eu falei sobre o atraso do nosso voo? Pois é, essa demora influenciou no voo seguinte que nós iríamos pegar. Chegamos em cima do laço e tia Laura saiu do avião correndo, e eu é que me lasquei porque minha bolsa balançou mais que barco atravessando maresia. "Licença, opa, moça desculpa! Licença, Licençaaaaaa". Tia Laura virou o flash e correu muito para que a gente não perdesse o embarque. 'Miaaaaau' 'Miaaaaaaaaaaaaaaau'. "Desculpa, filha, mas a gente precisa correeeeeeer". Vai mais devagar, mana, vai arranhar minhas próteses!
Pegamos informação com uma atendente da companhia aérea e ela explicou como chegar no portão de embarque. Tia Laura correu mais um pouco e entramos na fila de prioridade, que já tinha algumas pessoas. Fiz amizade com um garotinho enquanto respirava um pouco fora da minha bolsinha. "Você vai para onde?". "Eu vou para Recife". "Ah, ela vai para Belo Horizonte". Eu gostei dele, mesmo ele só entendendo quando a humana respondia por mim.
"Calla, isso tá esquisito, espera aí". Ihhhh, quando a tia fala assim eu já sei que vem bomba... "Moça, esse voo vai para BH mesmo?". "Não, senhora. O voo com destino a Belo Horizonte é no outro portão". "CALLA, A GENTE TEM QUE CORRER". Ai, lá vem tudo de novo…
Depois dessa maratona digna de atleta, tia Laura conseguiu nos fazer chegar a tempo. UFA, deu tudo certo! Na fila para entrar no avião fizemos amizade com um casal amistoso que estava atrás de nós. A humana contou toda a minha história quando eles questionaram. "Nossa, que maravilha! Essa pessoa deve amar muito ela para mandar buscar de longe, né?". Aproveitamos também para falar sobre o apagão do Amapá. "Nossa, nem consigo imaginar o desespero".
Em nosso último voo, já cansadas e famintas, tia Laura conseguiu aproveitar mais porque baixou as músicas para ouvir lá no aeroporto, mas toda vez ela fica para morrer do coração dentro do avião. Calma, tia, já falei para a senhora deixar de ser medrosa. "Atenção, tripulação, preparar para o pouso". Uh, enfim em casa! CHEGUEEEEEEEEI, BERIZONTEEE!! Cláudia e Lúcia, minhas novas mães já esperavam por nós no desembarque, mas antes fomos buscar a mala da tia e a cuba com vários presentinhos gostosos para minhas mãezinhas.
Chegando na minha mais nova moradia, fiquei com um pouquinho de medo e me escondi no armário, mas comi um pouco, bebi água, fiz xixi.
Diário na serra (Dia 2)
Primeira noite que passei na casa nova e já comecei a me sentir familiarizada. Quando cheguei, minhas mães já tinham deixado tudo pronto para mim, ganhei um enxoval completo, com direito a casaquinho de frio e tudo. Diz aí, tô chique ou não tô? Mas como eu ainda estou em adaptação, não conheci meus novos irmãos ainda, tudo no seu tempo.
Já contei que por aqui faz muito frio? Pois é, eu até que lidei bem, tia Laura é que ficou batendo os dentes... amadores. Passei uma noite tranquila, só no chamego com a titia, fiz muita traquinagem de madrugada para relembrar os velhos tempos em Belém e depois cochilei na minha caminha (e na da tia Laura também).
De manhã cedo minhas mães vieram me ver e foi uma festa só. Sabe, tios, nunca fui muito fã de desconhecidos, mas elas eu senti que já conhecia desde sempre. Ah... elas também me deram petiscos, como não amar, né?
Coçadinha para cá, lambidinha para lá, o tempo passou tão rápido que quando vi já era hora da minha consulta na vet. Tia Laura ia conhecer a médica que vai cuidar de mim aqui em Minas. Quando chegamos me assustei com o tamanho do hospital, é muuuuuito grande! Já cheguei logo entrando porque minha vez tinha sido agendada pela minha madrinha Cláudia. Amei a vet Ana Letícia, só não gostei do tanto de aperto que ela me deu, quase risquei a cara dela.
'MIAAAAAU!!!!!'. Ei, tia! Pega leve que eu cuido muito bem do meu bumbunzinho para ele sofrer assim, credo! Ah, já falei que a tia Ana é especialista em gatos? Pois é, uma beleza! Como ela não é da área que mexe com os ossinhos, ela chamou outro tio para ajudar a analisar o meu caso. "Como a curvatura da prótese que ela tem não é a mais adequada, provavelmente é isso que faz ela sentir a dor na coluna". Em outras palavras: vou mudar de pés!
Fiz um baita check-up, vacinei, vermifuguei e também fiz exame para Fiv/Felv (e deu negativo, ufa!). Agora é só aguardar o dia da minha visita ao protético para ver um novo pé para mim.
Na jantinha, minhas mães finalmente experimentaram os chopps da vovó que eu trouxe lá de Macapá, ficaram encantadas com o sabor e principalmente pelo cupuaçu. "Nossa, você vai ter que voltar sempre para trazer mais dessas delícias para a gente". Hummmm, parece que tia Laura vai me visitar na serra outras vezes... interessante.

Diário na serra (Dia 3)

Ah, a serra... olha, vou falar para vocês tios, agora entendo o pessoal da novela quando diziam: "Só preciso de um fim de semana na serra para arejar as ideias". Eu precisava mesmo, a diferença é que agora eu moro aqui. Se eu gostei? Eu AMEI!!!
Hoje teve passeio, mas como eu tomei vacina na quarta, não pude sair. Óbvio que eu não deixaria vocês sem essa parte, então mandei minha fiel escudeira no lugar, tia Laura. Como ela me contou tudinho, vou explicar para vocês. Mini viagem de carro com destino a: Ouro Preto.
Lúcia e Cláudia são ótimas guias e sabiam tudo sobre cada coisinha na estrada. Passamos por várias barragens e vimos o tamanho da destruição causada pela ganância humana, quilômetros de montanhas exploradas até não restar mais nada. Lembra daquelas montanhas que desabaram, tios? Pois é, ficam aqui! No caminho vimos uma faixa colocada pelos moradores em protesto pelas consequências das ações da Vale.
Mas vamos falar de coisa boa, no caminho elas viram o Museu do Jeca Tatu e logo pararam para comprar pastel de angu, enquanto isso tia Laura fotografou tudo para me mostrar depois. "Você tá com o celular carregado aí? Porque em Ouro Preto a vontade vai ser de registrar tudo". E assim foi, foto ali, vídeo acolá, a única parte ruim é que elas não entraram nos museus e pontos históricos, infelizmente por conta do coronga vamos ter que adiar um pouquinho essa visita.
"Moço, tá quanto essa imagem de São Francisco de Assis?". Enlouquecemos em uma feirinha de artesanato local, tudo que estava para venda ali era feito de pedra sabão. Dominó, calendário, fonte e até panela. Uma coisa mais linda que a outra... saímos com alguns presentinhos para a tia Laura levar para Macapá e um gatinho esculpido que era a cara do meu irmão João.
Andamos, andamos, andamos. "Você não pode ir embora daqui sem levar queijo!!". Entramos em uma loja cheeeeeeeeia de coisas gostosas. Queijo, doce de leite (de todos os tipos, formas e tamanhos), frutas diferentes e milhões de opções para tudo. Compramos queijo e doce de leite.
Uma curiosidade sobre Ouro Preto, tios, por ser um patrimônio histórico, não se pode mexer em nada que tem ali sem autorização. Isso significa que até novas construções e reformas, precisam seguir o padrão das coisas que já existem ali. E é tudo lindo, viu?!
A próxima missão era achar um lugar gostosinho e sem aglomeração para almoçar, já que a fome estava batendo na porta. Fomos ao Bené da Flauta, um local super aconchegante e com uma vista incrível. Tia Laura trouxe um postal para mim. Ah, acho que nunca mostrei o rosto das minhas mães, né? É para já…
Passado o almoço, era hora de voltar. Minhas mães e a tia iam me levar no moço que faz prótese para avaliar novos pés para mim. Bom, sobre isso, só tenho a dizer que fiquei chateada porque ele não parava de desenroscar meus pisantes, mas no fim deu certo. Vou ter novos pés em breve, mais adequados ao meu tamanho e que vão deixar eu andar direitinho, sem sentir dor nas costas. A moça disse que dá até para escolher a estampa!! Acho que vou estampar a Dora aventureira, o que vocês acham? Combina com o meu estilo de vida.

Na hora em que estávamos com o protético, tia Jéssica mandou mensagem. A CRIA DA TIA ALLANA IA NASCER. Quase a tia Laura morre do coração de tanto nervoso, ficou agoniada de não estar em Macapá. Te controla, mulher! Voltamos para casa e nós duas passamos a madrugada acordada esperando o Alu nascer, mas tia tava tão cansada que pegou no sono. É tanta ansiedade no corpo dessa mulher que ela levantou de madrugada para olhar o celular E SIM, ELE TINHA NASCIDO!!!!! ALU BLUBLU CHEGOU AO MUNDO E ELE É PANÇUDINHO QUE NEM EU!!!!!!
Como vocês sabem a tia Laura é chorona, então se acabou em lágrimas e sobrou para eu ir consolar, ainda bem que eu sei nadar ou já teria me afogado no quarto. Olha, tia Allana, a senhora não inventa de me substituir, viu? Eu sou a única buchudinha da sua vida, mas não esquece de lamber a criança. Tô com saudades, se cuide!

Bem-vindo, Alu!
Diário na serra (Último dia)
Olha só, tios, esse é meu último relato no diário, então aproveitem! Bom, todos esses dias eu estava só no quartinho, me adaptando primeiro ao novo ambiente e só depois a minha amizade com os irmãos começaria. Minhas mamães quiseram fazer tudo na presença da tia Laura para que eu me sentisse mais confortável. "Callinha, vamos pegar um pouquinho de sol no jardim?". Que beleza, adoro me bronzear!
Cata minha bolsinha aí, tia, que eu quero chegar lá embaixo em grande estilo. Descendo as escadas fiz um pouco de confusão com meus irmãos, mas nada demais, só para eles se situarem e entenderem que eu cheguei!
No quintal eu me soltei, nunca estive tão livre, cheirei tudo, cada cantinho. Fiquei com raiva quando as cachorras tentaram chegar perto de mim, não gosto que me toquem, rum! Comi graminha, corri e escalei o morrinho, foi ótimo, me diverti muito. Claro que eu aprontei também, me enfiei em uma escadinha de difícil acesso e dei dor de cabeça para a tia Laura me tirar de lá, até que ela conseguiu, droga…
Depois a tia me levou de volta para o quarto porque eu já estava fazendo muita traquinagem, demos um cochilinho e depois ela saiu, adivinha só? Foi buscar gato... essa mulher saiu de Macapá para vir roubar gato em Minas. Mas na verdade elas foram buscar um gatinho que ia ser adotado pela Cícera, a moça legal que ajuda a cuidar da gente aqui na casa. Quando tia Laura voltou ela me disse que conheceu, PASMEM, O ANJO VALENTIM! Para quem não conhece o TimTim é um gatinho que nasceu sem as patinhas da frente, quem cuida dele é a tia Alê, uma protetora super legal aqui do estado. Coloca a foto do Tim aí, tia Laura.


Ah! Também teve visita na cachoeira!! No condomínio onde eu moro tem 7 delas, olha que luxo. Dona Lúcia escolheu uma pedrinha de lá para o baby Alu. "Já escolheu a sua pedra, Laura? Você olha e pega a que mais se parece com você!", a tia pegou as pedrinhas e guardou, disse que ia levar para Macapá.
De noite dona Lúcia começou a cozinhar para a janta, prato do dia: macarrão com cogumelos frescos para a tia Laura e macarrão ao molho de camarão para ela e dona Cláudia. Já disse que ela cozinha super bem? De repente... "MEU DEUS, MEU VOO ADIANTOU". "Uai, como assim?". "ACABEI DE RECEBER UM EMAIL DA COMPANHIA". E assim começou a correria. Na mesma hora dona Cláudia saiu com a tia para comprar as coisinhas, que só seriam compradas no dia seguinte, porque ela levaria tudo para Macapá. Queijos, doce de leite e até o presentinho que Cláudia mandaria para o Alu.
As duas passaram a noite fora, mas conseguiram chegar a tempo do jantar de Lúcia, e foi tudo lindo. "Poxa, e a gente ia amanhã na Pampulha... uma pena seu voo ter adiantado". Pena para elas, porque eu ainda teria mais um dia dormindo de costelinha com a tia.
Depois da refeição foi um corre-corre danado, mala para cá, queijo para lá, todo mundo mobilizado em arrumar as coisas da tia Laura que ia sair de madrugada para ir embora. Tudo arrumado, agora era só tomar banho e dormir. Aproveitei ao máximo o carinho da tia, já tava morrendo de saudades dela, ronronei e amassei pãozinho a noite inteira na pancinha dela, até dormir.
"Calla, tá na hora". JÁ??? Calma, deixa eu abrir os olhos direito. Toc toc. Dona Cláudia entrou no quarto e disse que o motorista já estava esperando a tia lá embaixo. "Tchau, minha buchudinha, vou morrer de saudades de você, mas volto para te visitar". Volta mesmo, viu? Vou esperar a senhora, e traga o Alu para mim também, tô sentindo que a tia Allana não tá lambendo ele direito. No portão todas estavam emocionadas e se despediram em abracinhos calorosos. "Vá tranquila, viu? Obrigada por ter trazido a Callinha para a gente, volte mais vezes!". Tia Laura desabou em choro no caminho para o aeroporto e molhou toda a máscara de coronga dela, essa mulher é uma manteiga derretida!


Ok, agora é a parte engraçada. Lembram que eu falei que o voo da tia mudou? Pois é, na mesma hora ela começou a abrir o site e tentou fazer o check-in também pelo aplicativo mas não funcionou, em nenhum dos dois... aí foi uma correria doida para arrumar as bagagens e dona Lúcia usou uma caixa de papelão, que seria despachada. Tia Laura chegou beeeeem cedo no aeroporto, horas antes do que estava marcado para o embarque.
Na fila do check-in a tia passou um tempão esperando, quando finalmente chegou a vez dela, a moça disse que ela NÃO PODERIA VOAR COM AQUELA CAIXA DE PAPELÃO PORQUE ERA DE ÁGUA SANITÁRIA. Xiiiii, a partir dali a coisa ficou feia!
"Como assim não posso voar??? E agora?". "Olha, senhora, você pode comprar uma nova mala ali na loja e colocar as coisas da caixa". Tia Laura correu até a loja, que era bem ao lado e ia comprar uma nova mala, quando de repente... "Senhora? Mesmo que você compre uma nova bagagem não vai poder voar...". "O QUE?????? TÁ DOIDA??? COMO ASSIM???". "É, senhora, o atendimento para esse voo já encerrou". Às vezes eu penso que tem gente com muita coragem, viu. Tia Laura ficou virada no cavalo do cão e foi até a loja da Gol, a moça queria cobrar mais de R$2.000 reais para remarcar!!!!!! A tia ficou revoltada, brigou com a moça e foi embora de lá chorando de raiva.
"Oi, Laura! Chegou bem aí?". "Dona Lúcia, eu tô no aeroporto ainda, não deixaram eu voar". Tia explicou tudo para elas pelo telefone e dona Lúcia, muito calma, respondeu: "Nossa mãe... que coisa deselegante, que Gol sem vergonha!". Tia Laura se segurou para não cair na risada do outro lado da linha. "Tranquila, vamos comer arroz com pequi". Fernando foi buscar a tia no aeroporto e ela voltou para casa. UÉ, MULHER! O QUE TU FAZ AQUI DE NOVO?! Levei um sustão quando a tia entrou pela porta do quarto. "Oi, filha, voltei!".
Passado o susto, dona Cláudia comprou outra passagem para a tia, o voo sairia no mesmo dia também, só que ela chegaria no dia seguinte à Macapá. Passamos a tarde brincando no jardim, peguei muito sol na moleira e no final da tarde já era hora de nos despedirmos de novo, cada vez que fazíamos isso era mais difícil. Tchau, tia! Obrigada por tudo, manda um beijo para todo mundo e diz que eu vou ficar com muitas saudades, não esqueçam de mim, viu?! E não se preocupem, eu vou ficar bem, a partir de agora eu tenho uma nova família!

Foi um longo caminho até aqui e agradeço a cada um de vocês por ajudar e contribuir na minha história. Minha vida mudou, hoje eu tenho uma família de verdade, irmãos e até um jardim! Esse é só o início da minha história, vocês ainda vão ouvir falar muito de mim!