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- “Precisa levar algo?”

- “Roupas leves e tênis”

 

Com o sol ainda nem pensando em raiar, levantei empolgada para o que seria um domingo de imersão na rotina de quem nunca para. O combinado era que minha carona chegasse por volta das 08h, para que, pontualmente, estivéssemos às 09h no local de encontro tradicional dos voluntários, um posto de gasolina pouco movimentado às margens de uma das rodovias da cidade. “A gente marca aqui para não ter erro, damos uns 15 minutos de tolerância porque sempre tem os atrasadinhos e depois disso seguimos nosso caminho até o abrigo”.

De aparência forte e famosa por ser ‘durona’, Laudenice Monteiro, 46 anos, é uma protetora animal conhecida no estado. Por ser presidente de uma ONG de amparo aos peludos de 4 patas, a voluntária também virou referência em grandes resgates por aqui. ‘Lau’, como é chamada pelos mais próximos, vive uma rotina totalmente dedicada aos cuidados com os animais, mesmo que isso signifique abrir mão de sua própria vida.

O caminho até nosso destino principal era difícil, o que antes era um caminho de terra, agora se tornara uma grande estrada de lama formada pela chuva recém caída. A cada buraco que passávamos, Laudenice lembrava que o carro precisava ir para a revisão, do contrário não iria aguentar mais o tranco. “Essa semana não tem resgate, preciso ver como vou pagar a manutenção desse carro, sem ele tudo para e eu não posso deixar de vir no abrigo. Só não sei de onde vou tirar dinheiro”.

Na esquina da moita mais distante é possível ouvir os latidos, avisando que nossa próxima parada está logo ali. Produtos de limpeza, ração, baldes e alguns poucos voluntários, o domingo no abrigo estava apenas começando. “Normalmente dá mais gente, hoje não veio quase ninguém. O primeiro e o último domingo de cada mês são os mais movimentados”.

A primeira vez que ouvi falar da ONG foi na época em que eles criaram uma campanha para conseguir comprar o terreno onde hoje funciona o abrigo. Tudo o que foi construído ali é fruto do esforço coletivo e da organização de quem suou para conseguir a empreitada, mesmo que ainda falte uma coisa ou outra.

“Nossa próxima meta é fazer aquele piso ali”, explica apontando o lugar onde em breve será uma continuação do piso mais acima. “Quando chove, aquela área molha toda e vira uma lama só. Aí já viu quando tem bicho, né? Eles fazem a maior zona. O piso vai ajudar bastante, mas aí não temos o dinheiro, vamos precisar fazer outra campanha”.

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 A ONG em números: 

68

ANIMAIS ADULTOS RESGATADOS EM 2020

11

ÓBITOS EM 2020

49

ANIMAIS RESGATADOS EM 2021 ATÉ AGORA

03

ÓBITOS EM 2021

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A curiosidade

dos animais vendo gente nova é enorme, principalmente pelos equipamentos. Sou avisada de pronto que eles derrubam tudo o que veem pela frente, mas essa é a parte mais divertida de lidar com os animais, a imprevisibilidade e a alegria que fica nos registros depois.

 

A única briga era porque todos queriam aparecer ao mesmo tempo, uma tarefa um tanto quanto impossível.

© Copyright 2021, Todos os direitos reservados  | Desenvolvido com        por Laura Machado

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